Que quero eu dizer?
Que tenho de novo a dizer?
Cansei-me das palavras
- agora só escrevo repetições.
Agitado escrevo
a ver se a coisa passa.
Não escrevo por querer,
nunca escrevi.
É sempre uma necessidade,
um alívio.
Só pinto por prazer,
quero ter prazer.
'pensei no futuro, tive ambição,
o campo amoroso um absurdo,
a literatura um absurdo...'
Fodasse! Com bilhete sem destino.
Ganho coragem e salto para o escuro e
abro os olhos num monte de silvas.
'não morri, não morri, não morri...'
E eu a pensar que era covardia e
e e não morri e
e no hospital expludo:
'as mulheres são todas umas putas!'
Ela já mo tinha dito e quando perguntou
eu neguei.
E escondo e sonego e a minha mãe
assina o termo e
em casa toda a gente preocupada e
meu pai pergunta porquê e
eu repergunto: gostas da minha mãe?, e
depois recuso ajuda e deixo-a e
fico com o absurdo nas mãos:
reverter o édipo - mandar foder
em vez de mandar matar e foder:
- mandar foder
numa ânsia de destruição e
toda a gente repara e esqueço
todo o mal que me fazem.
Sou lento nas respostas.
Consigo fugir mas relapso:
'serei sempre um estranho,
não é este o meu lugar.'
Tenho medo, muito muito medo.
Quero esquecer
para só ter futuro.
'é ali que quero chegar,
sai da frente ó merdas!'
eu - humilde servo agora opressor
tal que não deixo amigos quando morro,
(e já morri várias vezes)
a sociedade das lâmpadas para colorir e
três mil pessoas mais o eclipse e
duas gajas ao mesmo tempo
para tentar matar um amor antigo
na minha mente
na minha vontade:
- a uma chamo-a de lésbica,
e ela sofrendo diz que gosta de uma pessoa;
- a outra manda-me foder,
e ela com um sorriso chama-me de parolo.
Três mil pessoas a chamarem-me Paneleiro.
Depois do eclipse dizes:
isto não é imaginação
ou foi?
Não pode ser uma construção da tua mente
ou foi?
Estás louco ou foi simplesmente fuga?
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