terça-feira, 22 de abril de 2014

The end

Aqui termina a transcrição do livro

É claro k a história continuou. 
Mas preferi vivê-la. 
Dei um não definitivo a todas as k s tornaram musas, 
até a própria deusa recebeu uma quase indiferença, 
à falta de melhor termo, 
quando jogou na malicia 
pensando talvez o passado em cristal. 
Fiz as malas, 
avisei toda a gente, 
fretei os colegas de trabalho e a carrinha 
e mudei-me para a cama de vallis, 
ela de minha mãe recebeu uma camisa de noite azul 
sinal de k a tratava com flores de laranjeira. 
Se deixei musas e deusa foi 
pk deixei d acreditar em ilusões e 
fui viver a realidade de um amor proletário. 
Amámo-nos tanto 
e desejámos morrer e matar o outro tantas vezes
'casámos' duas vezes
fomos rei e rainha de latão
não foi a morte que nos separou
mas talvez 
até tu hoje possas cantar como eu:

Liberdá de liberdá de!

77.

Ok... não sei como escrever isto.
Ando há dias a pensar,
tenho-me lembrado de algumas frases-conclusão
mas tenho adiado,
tenho dito a mim próprio:
escrever um livro em forma de diário... praquê?
Ok, para ordenar as ideias ok mas...
já sei!, encontraste pequenos fragmentos
com sentimentos como:
era bom que o telefone tocasse
mas...
ele hoje até toca, ou melhor tocava
e tu retiraste o volume ao toque de chamada
porque te era insuportável ouvir tocar
cons tan te mente
houve um dia que ela telefonou oito (8!?) vezes
desde a uma às oito da manhã
por isso imagina o não poderes dormir
e então desliguei o som
porque não suportava
houve muita coisa que não suportei
mesmo que algum paraíso alguma magia ter havido
mas durou um mês
terminou quando lhe disse que tinha dela pena
o dinheiro escasseou
a paixão terminou
ficou o peso da responsabilidade
de ter alguma culpa se algo lhe acontecesse
os anos seguintes foram desatinos
empréstimos a fundo perdido
choros ameaças
e pouco sexo
mas nem tudo foi mau e a verdade:
ela salvou-me
sem o saber fez-me ver que
vivi o meu passado como uma ilusão e que
tinha que perder a ilusão, tinha que me 'desiludir'
para viver uma realidade de verdade
mas esta?!
A verdade fica: ela disse que eu não lutei o suficiente
outra verdade: ou vai ou racha, tenho de
dar um passo em frente
ir morar de facto com ela
terminar o bacharelato chama-lhe dispensa sabática
chama-lhe perversão de teres meio cérebro
ocupado por uma mulher invisível
e na verdade esta mulher real
( Vallis o seu nome ) quase me faz acreditar
num casamento sem aliança ou papel
mas fizeste esta relação temporária
porque depois de qualquer grave sempre discussão
sobre qualquer coisa comezinha
(aquilo que os poetas do sistema chamam a vidinha)
eu não suporto os teus olhos furibundos espumando-se
de raiva
então saio de casa para comprar pão
a dizer que era temporário
ou que será necessário utilizar
um plano de cinco anos soviéticos
para te fazer um upgrade à consciência e ao teu
'environment' em inglês
e tu hoje só sabes dizer 'lol'
outras vezes dizias que eu queria liberdade
e eu te dizia que o amor não tem de ser uma prisão
mas tu ficas com ciúmes
deixei de gostar de te levar a sair
quando fizeste um recital inquisitório num espaço público
pareciam as galinhas a dar bicadas no garnisé
enfim...
sem muita paixão
reagindo bruscamente
desligando o ouvido quando ela acusava
encharcando-me de axn
aguentei reflecti pareço um otário
o fim próximo mas mesmo nestes momentos pensava:
eu estou a abandonar todos os meus interesses
para me dedicar à causa de a ajudar
a ter mais estudos, mais cultura, mais trabalho,
mais comida, uma bifana, uma cerveja de vez em quando
e com todos os avisos em contrário
ou vai ou racha
vá lá faz as pazes faz amor
mas como pode haver amor?
até de cobarde me chamou, de velho
e passou-se quando eu disse:
deves pensar que és uma topmodel...
tudo correcto
ela nos momentos de fúria esquece
todo o bem que lhe fiz
e só se lembra do mal
e ataca-me
e pôe-me como culpado de todo o mal
que lhe fizeram na vida durante e antes de mim
até tive culpa de ter tido namoradas antes dela aparecer...
ufa que vai longo
vou-me anulando até ao limite
o superego chega finalmente no último domingo:
andor desampara-me a loja
estou farto de me obrigares a ser mau contigo
porque tu és uma burra que não quer perceber!

Passo a desligar o volume de toque de chamada
dezenas de chamadas por dia
mensagens de chantagem suicida
pensa que tenho outra
porque toda a gente pensa quando não sabe os pormenores
compro-lhe um aspirador
e o que recebo em troca são mais do mesmo
eu quase já sem pena o amor a ir-se
quem me dera poder tomar um café em paz e sossego...
andor!
mas ela finória recaptiva-me quando me diz
precisar de ajuda para um trabalho de pintura na escola
e eu escrevo-lhe um email catita
e nesta noite esqueço tudo
digo a mim mesmo:
vou morar com ela,
que se fodam as dívidas!
Vou a casa dela à noite, peço-lhe desculpa
aceita-me de volta
eu quero vir morar contigo de vez.
E ela diz-me que tem de pensar
e eu digo que compreendo
e sei no fundo que o 'tem de pensar'
significa que falta faísca, falta paixão
mas no dia seguinte ela telefona
e pergunta se eu estou bem
dá uma de madre superiora e pergunta:
ficaste chateado comigo?
Eis como se passa de cabrão a cornudo:
ela que foi abandonada por um marido
que lhe levou as filhas e o sustento
abandona-me e faz o joguinho da
femme fatale do bairro e ainda assim
precisa de dinheiro!?
(para fazer uma pedicure a dedos com micose.)
Como leio numa tradução brasileira de Erving Goffman:
'um psicótico é tolerado pela mulher,
até que esta encontre um namorado.'

mas não te preocupes
não morrerá ninguém
eu não tenho ciúmes
e mando-te foder
ao dedicar-te o livro
e dizer:
o meu coração é teu
'até que a morte nos separe.'

domingo, 20 de abril de 2014

76.

Foi um fim de semana marado.
A ansiedade faz-me fumar.
Sempre fumar até acabar.
Fumo até acabar e digo:
quando acabar acabou e
não se pensa mais nisso.
Então, até parece que fumo mais,
ansiosamente,
não paro de fumar até que acabe,
acelero o travo do fumo e
fumo mais em menos tempo.
Até que acabe.
Enquanto acaba aquilo que dizia antes,
que não pensava mais no caso hoje
e só amanhã fumaria mais,
tudo isto deixa de fazer sentido.
O primeiro pensamento é marcar o número
que me dará paz e
me retirará a ansiedade.
Hoje isto não aconteceu.
Fumei freneticamente mas
não marquei o número.
Hoje estou a ouvir The Legendary Pink Dots.

75.

Eu sempre e quando quiser
lutarei por uma cona.
Não digo à primeira mas à quarta
ou quinta e se estiver na
right frame of mind - eu pinarei.
Este pensamento não deve ser só escrito
por estar a ouvir Mão Morta.
Este livro que se anuncia
com um fim próximo...
tenho de lhe determinar um fim.
Há anos que lhe dei o nome
mas a sequência temporal prescreveu
e não prefiguro um novo colapso.
Adquiri um certo poder de encaixe
e quando quiser pinarei
de novo. É só ter paciência
para aturar a vossa malícia.

74.

Fumo um sufi. Ouço Copacabala.
Vim de terras estranhas há duas horas.
Tinha fome. Em dois cafés diferentes tomei
dois cafés, um panike e um lanche aquecido.
Vim embora de terras que
hão-de ser sempre estranhas.
Já mudei de vida infindáveis vidas e
agora chego à conclusão:
é melhor trabalhar do que aturar pessoas
rabugentas. Hoje faz anos a república.
Há quem se case por obrigação,
outros por liberdade.
Há quem viva torturado por erros de liberdade.
Sei de quem falo.

Hoje chateei-me com ela.
Fui tentar confortá-la, dar-lhe ânimo mas...
esqueci-me de comprar almôndegas!?
Ela ficara em casa não tendo ido trabalhar
por causa da gripe.
Virou-se contra mim.
O pretexto foram as almôndegas.
Disse que não podia contar comigo.
Textualmente disse:
a merda é  mesma, ter ou não um namorado.
Disse que havia uma conspiração contra ela.
É mais um caso em que uma hospitalização
muda as pessoas à força e as torna
estúpidas e doentes mentais.
Comigo aconteceu o mesmo e agora
vejo e não quero acreditar
na realidade:
ela engordou e parece um elefante,
além disso o seu volume de voz
provoca-me alucinações auditivas.
Ter-me-ei tornado merda
que só merda atrai?
Terei eu nunca deixado de ser merda?

quarta-feira, 16 de abril de 2014

73.

Estou a ouvir Ka-Spel em vinyl.
Terminei com Vallis após o Natal.
Passámos Janeiro a telefonar um ao outro.
Chegamos a um entendimento:
somos só amigos mas também pinamos.
Por isso temos uma ligação.
Gostamos um do outro mas não vejo futuro.
A longo prazo brinco ao plano quinquenal.
Nós mudamos com a ajuda um do outro.
Eu mudei: expludo menos.
Vallis sabe que tem de mudar.
Mas eu tenho de por-me no lugar dela
e imaginar o que será não ter família,
ter de pagar uma renda, comprar comida...
vive tempos difíceis.
Eu porque gosto dela tento ajudar.
É difícil porque ela explode e eu expludo.
Ela quer segurança emocional e dinheiro.
Se não tiver descontrola-se e vem-lhe
o coração à boca.
Tenho de a ajudar a não ser internada
porque
não gosto que façam aos outros o que me fizeram.
Tenho de lhe dar amor e segurança.

72.

Dos altifalantes sai Sister Morphine.
Arranjei emprego hoje e amanhã já
não vou apresentar-me à junta.
Vão-me fazer descontos.
O novo tempo diz que Vallis
não aceitou ainda a nossa separação.
Vallis faz-me sofrer.
Envia mensagens de desespero suicida.
Vallis faz-me sofrer porque sabe que
eu tenho medo que ela se atire ponte abaixo.
Ouço agora Destroy! the film por ZMB.
Este álbum ninguém o comprará,
ninguém se interessa. Agora
vou ver o Mentalista.

terça-feira, 15 de abril de 2014

71.

Comecei a escrever este ficheiro
faz três ou quatro anos.
O tom inicial era o tédio perante
o desemprego, situação médica,
a família, a falta de amor,
a falta de alguém com quem falar,
o sexo claro, a companhia.

Tudo isto me leva ao consumo lúdico
como uma necessidade de refúgio
mistificando a ganza e
tudo isto se torna um fim,
um último reduto, um último amor,
um ideal, uma deusa.
Ainda há pouco tempo um colega dizia:
I wanna be her dog,
um cãozinho para a sua dama
mas ele nunca consumou nem
esta perversão e eu?
Eu tive e deixei de ter
e agora sou um chorão 'que se diz'
com culpa
e que se começa a fartar de pensar em
                                       tê-la de volta
e de o rodopio continuar até fazê-la
                  subir à categoria de totem,
de mãe, de amante impossível
e agora... que tenho Vallis
começo a truncar as frases do ficheiro,
farto-me de tentar escrever
as frases que se tornaram pequenas
e tão absurdas
'o meu escrever está errado desde o início'
e namorar uma mulher é mais agradável
do que ser sugado pelas musas.

Queria escrever mais qualquer coisa
mas a minha companheira telefona-me
dizendo ter recebido tempo de telemóvel
grátis
e então não vou escrever mais
e vou ouvir a sua voz
ao ouvido.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

70.

Sabes uma coisa minha alma...
eles devem apenas ouvir os infra-sons
da minha mente e ouvir a voz
quando falo alto pelo que neste caso
o meme é passado por via oral
e chega a mais gente,
chega à vizinhança e à autoridade.
Quanto às imagens dos meus olhos
ou à descodificação vídeo das imagens em memória
penso ser preciso provar tal acontecimento.
Às vezes, uso óculos escuros,
às vezes não uso óculos escuros.

69.

Ela gosta de ti
        como nunca ninguém gostou
e eu
apenas gosto dela
       diferente de alguma vez antes.
Com ela deixo-me esquecer
                       traumas amorosos.
Com ela acredito que
                   possa acontecer mas
a conclusão parece a mesma:
                        não há finalidade.

Só no meu sofá
Só com o radiador eléctrico de calor
Só com a minha incorporação de Mahakali
Só com a minha miúda em memória
Só com Vallis
Só com uma peça de hash
Só com um livro de física quântica
Só com um cobertor nos pés
Só com a televisão desligada
Só com a minha voz recitando
Só com a minha mão escrevizando isto.

Vallis dá-me um beijo
e dois números de telefone para emprego.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

68.

Olá Vallis,
a esta hora estarás a dormir
a esta hora espero que estejas a descansar
hoje não estou contigo, estou longe
fisicamente estou longe de ti
mas afirmo querida Vallis
apenas fisicamente longe estou
porque estou a pensar em ti
porque estou a escrever o que poderás
                                      estar a sonhar
estou a escrever e a pensar em ti e
a tentar ajudar Vallis à distância
eu sei como estás só eu sei
mas hoje nada posso fazer
por isso digo:
gosto muito de ti
gosto do teu novo penteado
gosto da tua força de lutar Vallis
peço-te que não cedas agora
peço-te que não acordes derrotada
peço-te que não penses que estás só.
Eu estou contigo.

67.

Ouço na rádio antena 2
o programa Raízes com o cruzamento
de música clássica e flamenco.
Vallis dorme. Ouço o seu respirar pesado.
Ontem dormiu quase doze horas,
depois de dois dias sem dormir.
Estamos a cêgripe já na curva descendente.
Vallis ressona. Outras vezes,
sou eu que ajeito este caderno
                                 em que escrevo
mexendo nas mantas que nos cobrem
e ela quase que acorda.
Ouço o dedilhar da guitarra e beijo-a.
Ela, de olhos fechados e eu adorando
a sua beleza de olhos fechados
e ela de olhos fechados diz que me ama.
Isto dá-me tusa e faço
                                  um desenho.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

66.

Flashback noticioso
Recebo um telefonema quando estou na sede.
Diz meu pai que devo vir já para casa.
Está a polícia à minha espera,
à minha procura para assinar um papel.
Quando contorno e começo a descer a rua de casa,
dois oficiais da psp saem do carro:
um homem e uma mulher polícia.
Ela, sorridente de autoridade, diz meio a brincar:
- estavas a demorar
Não ligo importância. A agente traz um ofício
e diz que me foi decretado qualquer coisa parecida com
tratamento domiciliário
e eu tenho de assinar, diz-me.
Apresenta a folha por trás, marca a cruz
e eu assino. O ofício tem duas páginas
e ela dá-me só a segunda com a conclusão
do despacho.
Como a primeira folha dizia o tribunal,
o nº do processo e outra informação relevante
sou deste modo censurado.
'Um esquizofrénico não tem direitos': toda a gente o pensa.
Não faço caso. Leio a conclusão:
mantém-se o ambulatório compulsivo e
solicita-se nova avaliação daqui a mês e meio.
Penso que só depois de novo relatório médico
o tribunal retirará o 'compulsivo' e colocará 'voluntário'.
- quem paga o custo do advogado?, pergunta Vallis.
- eu é que não. Quem me pôs o processo.

65.

Estou em casa.
Ouço Muslimgauze e
uma pequena sequência sonora
faz-me olhar para a porta
pensando que alguém estará a bater.
Então olho e não vejo movimento.
A cortina está silenciosa.
Então não estão a bater.
À minha porta não estão a bater.
Mas nas portas e janelas de Gaza [Janeiro 2009],
nos telhados de uma cidade de refugiados
estão a bater bombas cirúrgicas de fósforo branco.
Numa semana morreram 500 pessoas.
Os judeus deveriam lembrar
a realidade nazi que viveram
e fazer mea culpa com os palestinianos.
Talvez seja uma das razões pela qual
o Irão nega o holocausto de seis milhões de judeus.

terça-feira, 8 de abril de 2014

64.

A catarse ao longo dos dias
anuncia-se e
tudo começa quando
olho as crianças de meus amigos
no café e
ela me devolve um olhar furibundo.
Eu só tenho mais um charro e
digo-lhe que vou comprar:
- espera por mim, volto já.
Mas ela passa-se, não acredita...
- onde vais?, quero ir contigo!
- deixo-te sozinha por meia hora.
Eu não a quero levar porque
não quero que ela conheça o meio.
Mas ela passa-se, não acredita e
começa a gritar, a esbracejar,
a ameaçar e eu na roda
                                por instinto,
a minha mão pára na sua face esquerda
                                em seco.

Tenho sentimentos confusos agora:
não lhe devia ter batido
e a pouca força pouco importa agora
mas não podia deixar ela bater.

Agora, ela descontrolada chora,
grita, chama-me o nome dele
e eu descubro o que estava implícito
e tento acalmá-la dizendo:
- tu não estás a falar com ele,
eu não te vou abandonar,
eu não sou ele,
volto dentro de meia hora.

Saio e regresso a pensar:
o mundo acordará mais feio amanhã,
quebrei a jura de não bater,
fui 'forte com os fracos',
o meu amor por ela é feio
e talvez não seja amor.

Numa tentativa de tentar criar
um ambiente para a paz,
adormecemos ao som da rádio m80
e ela agora 'tão' calma...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

63.

Vallis - a 'boa selvagem' do poema,
que nada sabe de tics até ao momento
e a quem eu mostro o meu mundo nético;
Vallis pensa que os textos do blogue
                                  de uma escritora
me são dirigidos a mim,
                       sÓ a mim e tem ciúmes.

O meu caso é mais grave,
comigo a psicose materializa-se.
Explico-me:

Um dia vejo num blogue um post sobre
uma banda chamada Contagious Orgasm.
Durante a noite, ao fazermos yabyum
venho-me em Vallis.
- como foste capaz
- deixei-me levar pela emoção

De manhã, vamos ao hospital,
uma pílula do dia seguinte e
um teste negativo.

Quando dizemos 'até amanhã'
pressinto nos seus olhos a ambiguidade:
talvez se sinta ferida por o filho não nascer
mas se nascesse
seria minha a culpa e ela
apenas uma vítima
tal como é vítima do seu último homem.
Quando nos zangamos e para ela
eu às vezes sou ele:
'os homens são todos iguais'
e quem assim não é e é diferente
é maricas ou maluco.

Vallis toma comprimidos para dormir
                                         em excesso.
Não quer acordar amanhã
nem nunca mais
e quando acorda
vai trabalhar como escrava
com a pujança de quem
                                        novamente
'acordou para a vida.'

quinta-feira, 3 de abril de 2014

62.

Verdade verdadinha:
fazer cedências para expiar
ciúmes, culpas e erros provocados pelo amor
nunca dará bom resultado.

Sucessão de choros e acusações
e de 'não gostas de mim,
não me deixes ficar'
e de 'quem manda aqui,
queres mandar em mim'
e também a facilidade com que
conseguiste arranjar dinheiro de um
homem...
escrevo-te um bilhete:

'Olá, volto amanhã para
entregar as chaves
não me telefones mais
fui-me embora
tive que fazer a trouxa como os ciganos
estou mal disposto e não vou
voltar
vai falar com vai falar com
arranjem uma solução
eu não quero ser controlado
em lado nenhum
se não gostas dos meus amigos
ou de eu ir tomar café
sozinho quando me apetecer,
paciência
não gosto que me cortem as asas
eu não sou chulo nem quero ser chulado'

mas...
o meu amor, o meu desejo
que cria necessidade e
o seu amor, o seu desejo
que cria necessidade
reúne-nos outra vez um mês depois
às vezes, nas masmorras do meu anexo
outras vezes, no seu telhado.

61.

Hoje provoquei ciúmes em Vallis.
Expliquei-lhe o sentido do graffiti
disforme a lume de isqueiro
                     no tecto do anexo
e ela chorou.
Talvez a tenha perdido.
O seu amor já não será o mesmo.
Talvez já não confie em mim.
Eu explico:
Quis testar o amor dela
se era verdadeiro
e ela provou que gostava de mim
mas chorou de desespero
chorou porque não tem mais ninguém
tiraram-lhe as filhas
e uma mãe
a quem tiram as filhas
                             não pode ser feliz
e agora pensa que
                             eu a vou trair
como fez a pessoa
              de quem se está a divorciar
e agora
o seu amor por mim terá
um olhar desconfiado.
'como lhe hei-de provar que' também eu
gosto dela
e que errei
e que dela preciso?

60.

A prima V. é tua mano
mano primo primo mano
a prima V. é tua primo
se ela e tu quiseres
e nem que ela me queira
porque eu já tenho dona
a minha mona não é a prima V.
mesmo que antes tivesse invocado a prima V.
saiu-me na lotaria Vallis.
( e eu aqui rio-me pois o desenvolvimento
da vida-poema o previa
absurda mente)
Tem mania de polícia
ou será só
amor desesperado?

-Tens saudades minhas?
tenho minha querida
-Que fizeste? já arrumaste?
ainda não meu amor
-Mas chegaste agora a casa?
sim minha amora
-Chegaste?
não minha sãota... cheguei a casa
pousei as coisas e depois fui lá
minha amora e só agora
estou em casa
só agora liguei o telemóvel
-E foste aonde? e com quem 'tiveste?

quarta-feira, 2 de abril de 2014

59.

Casmurro fala em solilóquio a Teimosa

São?
querida
Ouves-me querida?
sim?
Estás a ouvir a música?
Pois digo-te que a música é a minha
mãe.
A música.
A música e não o intérprete. O som.
A sonora música.
Podem ser violinas, podem ser pianas.
Podem até ser telefonemas
                  nas horas em que estamos,
ficamos ausentes
                                     depois de
Digo-te São!
digo-te querida!
O mundo é grande!
Nós caberemos dentro dele,
os dois.
Sim São! Nós os dois caberemos dentro
do mundo
e seremos felizes.

São?
São? São? São? São?
Ouves-me São? São? São?
Kerida! Ouves-me São querida?
Um dia querida São
Um dia haveremos de partir
Um dia querida São
Para um longo Lá distante
Um dia São Querida partiremos
Para uma Lá. Seremos
São caseiros de um marajá
Onde em Lá haverá + Ganges
on ganja black bombaim or even
opium hums from soma Lá...
Um dia São. São e Rui partirão.
E Lá morrerá.
E Nós em Lá ou mesmo em Fá
                                   Qui lo saberá?
Um dia são et Moi
                                   Moi et Toi, sãos
partiremos pour La, une petite Lá
                                              Lá

58.

O-que-se-tornou bobo da corte
conhece Vallis no quarto inter-zona-mente.
Ela acredita em mim.
Eu acredito nela.
Somos capazes de ter
            necessidade um do outro.

O engraçado é
ter invocado uma mulher
e uma mulher ter aparecido.
Transcrevo psicofotografia:
'São,
Estou em paz
Deste-me paz
Fizemos amor
Parti-te um copo
Bebi da tua água
Sorveste do meu néctar
Num domingo à tarde
           onde no verso o pintor morreu
Apanhei chuva     e sai na paragem errada
Apanhei chuva     e tu estavas lá
Paz intensa
e já brincamos aos namorados.
Beijo.'

terça-feira, 1 de abril de 2014

57.

Eu Vi, apertei a mão
eu cumprimentei um serafini
eu acarinhei V., são de Vallis,
o serafini cego usava bengala
ontem de manhã comprou-me tabaco
ainda hoje me espanto...
hoje à porta da ala psiquiátrica
hoje cá fora como mano e mana sideral.
Transcrevo mensagem da rainha do hospital
deixado no quadro de honra:

'nem mesmo posso refugiar em casa
de ninguém sempre acontece alguma
coisa, nem sempre pessoas estão
para levar comigo.
Só sei que não consigo dormir
não quero que vocês se prejudiquem por mim
causa de mim
se pudesse voltava aí para dentro
sinto bem à vossa beira
de vocês todos incluído contigo.'

56.

Olá prima V.,
sou eu, o maluco que não dorme
sou eu, o preso 'político',
e nada mais fiz que reivindicar
a justa causa, o respeito e os direitos
de três meses de salário em atraso.

Sou aquele que não recebeu
                              a indemnização
e por isso se tornou
                              momentaneamente
um cão que rosnou ao grande cão
um cão que quase mordeu
e talvez mordesse
se não fosse parado à força.
(por isso, a culpa também é minha
mas, às vezes, esqueço o mal
que me fizeram)

Sou aquele a quem vão fritar
                             os miolos porque
tive de assinar um papel
uma autorização para uma injecção quinzenal,
sou aquele que por ter assinado este papel
pode sair hoje ou amanhã
ir a tribunal psiquiátrico dizer:
'agora tenho uma namorada'
dizendo com isso aceitar o édipo
dizendo com isso aceitar inverter o triângulo
dizendo que o seu sorriso me dá
uma finalidade à vida
e me faz sentir bem...
quando o tribunal mental com isso nada se importa
e tão só com
controlar quimicamente
as manifestações físicas da minha violência.

segunda-feira, 31 de março de 2014

55.

O nome foi mudado para proteger
um inocente.
Ontem ou amanhã não sei nem interessa,
uma mãe com aspecto de mãe,
irmã mas nunca filha nem avó, revistada
e impedida pela bófia do hospital
de entregar uma 'caixa de bombons'.
era um só bombom para seu filho,
revistada e identificada.
E porque terá sido seus governantes corn[pii]?
E mais não digo por aqui,
fico pelo melhor:
na salinha de fumo
demos alto concerto de flauta e guitarra.
E mais não digo porque se calhar
carregam no botão vermelho.
Splash ao som de cadillac calhambeque.


54.

A farsa do hospital
Capangas mais capangas, numa noite
                                       de sexta-feira,
gajas com seringas, onde minha mãe e irmã,
capangas mais dois mil e quarenta e cinco
                        seguranças, choraram,
gajas com seringas, por me terem chibado,
Capangas mais outros seguranças, pais covardes,
gajas com seringas falsas, que pediam socorro.
Bigodaços ruivos de aparência cavaquistona
                                         mais comandos,
irmãos semelhantes a pinheiros com muletas
                                         e doenças,
vizinhos da meta la donna que dizem: inteligente,
gajas com seringas mais cedo ou mais tarde
                             mais dois estagiários,
toda a gente pagará.
Capangas e mais capangas e gajas em fila
                           indiana com seringas falsas
em fila indiana com capangas e seguranças.
Veredicto, ultimato de um de bata verde:
- vais a bem ou a mal?
Fazem o teste do comprimido.
Não o tomo.
Diagnóstico: delírio ou paranóia.
Solução: internamento compulsivo.

Penso numa frase de Coil:
'one day our eggs are going to dance
and very strange birds will appear'
e macacos
e abelhas
e moscas na manteiga...
eu aqui escrevo porque hoje não durmo,
como não posso ter acesso ao telemóvel,
imagino que alguém me ligou:
'either G called or prima V. called,
by default Suzy V called
I know I am a dreamer mas
hoje à noite não durmo.'

53.

Gerónimo
Gerónimo eu
Gerónimo eu vi
Gerónimo eu vi tua
Gerónimo eu vi a tua triste
Gerónimo eu vi tua triste postura
numa fotografia

Pareces tão triste
Pareces tão triste
Desejo que Gerónimo, meu mítico ancestral
Desejo que conseguisses restaurar a tua glória
Gerónimo eu vi-te
Gerónimo eu desejo-te meu giga-avô
Gerónimo estou agora fumando
                      tabaco do arizona
(é o que dizem)
Gerónimo eu amo-te meu tera-avô
Gerónimo obrigado
Obrigado Gerónimo pela tua existência
Os ianquis estão a colapsar
O teu espírito viverá para sempre

Eu sou mau porque me fizeram mal
e agora
vemos o sol aos quadradinhos.
'aiaiaiaiai al peuerto pobre'
Meu pai tem agora medo do filho,
eu tinha dito na bomba a quem quisesse ouvir:
vamos ser todos presos.
Quem ouviu teve medo,
afastou-se fiquei sozinho
e hoje,
quando me obrigam a tomar
mais de quinze comprimidos dia,
perco a ilusão de
'oh queria tanto ser mau em vez de ser maluco...'
e resigno-me, sou apenas um doente
com a mania de que é mau
um doente que joga o teatro da maldade
para assim achar a justificação a sua doença:
o - sou doente porque sou mau
em vez de - sou mau porque sou doente.

sexta-feira, 28 de março de 2014

52.

Olá prima V.,
como deves saber estou dentro
pela quarta vez
Gostava que me viesses ver.
Há dias caí da cama.
Não me recordo bem
contaram enquanto fumávamos.
Tu tratas-me por você,
a tua novela deve ser brasileira,
deves parecer a sónia braga
à procura da caderneta de um senhor.
Andam por aí muitos doppelgangers,
todas querem que eu lhe ponha a mão
na conita
mas só se puderem mandar
e por breves instantes.
Algumas até gretadas dizem:
mata-me mata-me de amor
mas só por breves instantes
aquelas que me rodeiam vêem o goucha
e sofrem de ejaculação feminina e precoce
como se eu estivesse virado para ser
o menino debaixo da saia da socialite
ou devem pensar que sou o santa claus
ou até jesus?!
nem eu na minha psicose associo jesus.
Gostaria que me viesses ver
pois aqui é tudo igual
sabias que a bófia chegou
com um papel cheio de razão
mas com o meu nome mal escrito
logo mandei-os dar uma volta
no fundo da rua quem os chamara
pôs-se a andar de mansinho
também eles se vão embora
as pessoas agora andam cheias de medo
antes só quiseram saber quando
e qual o meu ponto de explosão.
É possível que permaneça aqui por muito tempo
continuam a mentir, andam na boa
e depois o senhor rufino pensa que os americanos
andam atrás dele
vai muito mal a saúde deste país
parece que as ilusão caíram,
era o que restava a este país
eu - sentado numa retrete limpa
e sem cagar porque já não tenho vontade -
estou só a disfarçar
e a escrever este desabafo.
o mundo será demasiado pequeno
o bilhete será só de ida,
a estiva de vladivostok
os hashishin encarcerados jogam dominó
espero que não tenhas dor de cabeça
elas querem ir a marte
de vassoura
enterrada no buraco negro
magma incandescente e ar cheio de smog
porque não sou santo
a culpa também é minha
mas neste momento
não sinto qualquer ligação à minha família
nem ao mundo.
que sa foda

51.

Na quinta dia onze à noite
meu pai tinha chamado o inem
                      para me levar
já durante a tarde
              lhe tinha feito frente
quase disposto a bater
pedira euros a minha mãe
resoluta como nunca a tinha visto
negara-mos e eu
amarfanhara-os de cima do frigorífico
para ir fumá-los
levei a melhor com os enfermeiros
fiquei no anexo.
em contrapartida a minha família mudou-se
saíram com medo e aconselhados
deixaram-me sozinho
por não querer ir para o hospital
tomei posse do castelo do meu pai
lembro de comentar com angústia:
- não me conseguiram levar.
depois desta denúncia e sexta à tarde
minha mãe chega com uma das minhas irmãs
e sentam-se na sala à espera
eu entro, insulto, cuspo, chamo nomes etc
e uma campainha toca:
elas só tinham vindo a casa por
                             esperarem a bófia
não me conseguem levar porque
              o formulário está mal escrito
duas fardas azuis abordam-me à noite
à porta do anexo mostram cartões de identificação
um deles com bigodinho à viseu
o outro parecia irmão do pinheiro
eu abro a porta a fumar um charro
e levam-me sem me deixar fechar a porta
dizem que minha irmã a fecha
a mesma irmã que me seduziu a abri-la para eles
Fui obrigado a ser observado e analisado
                   por duas batas verdes na urgência
sexta dia doze. uma bata usada por um espertalhão
a outra falava espanhol
escrevia o que era relevante ou seja
como não me calava... tudo
o que me pudesse incriminar.
Olá... hoje é dia 14, entrei há três horas
em Vallis, em definitivo.
Venho de um hospital temporário
onde estive duas noites.

quarta-feira, 26 de março de 2014

50.

Tendo a ilusão de ainda
controlar a máquina paranóica,
escrevo esta carta-bomba:

Actualmente escondido nas
catacumbas nado morto algures
numa terra de martas sem culpa
irmão de são jacinto e
vendedor no império cor-de-rosa,
Tu.
Merd[pii] que dá mau nome
ao pai, tu sim sin sing tu
hás-de-vir aqui
um dia virás sim sim virás
jajajá virás aki
aki beijar a ponta
             do meu dedo
beijar a ponta do meu dédalo.

49.

Olá prima V., estou na zona.
Os bro[pii] não pagaram.
Fumo gold leaf,
fui buscar um big cinzeiro
e coloquei-o em cima da mesa.
Minto. Não fumo gold leaf.
Fumo high leaf.
Há dez anos fumava drum.
Comprava ao smuggling joe.
Gostei de te ver ôji di manhã.
Estavas uma bomba.
As tuas filhas são muito bonitas.
A tua família parece aceitar-me.
Estou disponível para ser adoptado.

48.

Carta-bomba
à gerência da companhia
da rua do barão, aqui designados
os patrões
Fumam à custa do pai com pêra
- procurador ou diplomata -
do lado direito de quem desce a rua.
(se calhar antes do incêndio)

Betozinhos morando na avenida central,
daltónicos andando de clio,
mudando o telefone para privado,
fumando quarenta e cinco
com a língua - um tapete de
       hollywood morangos.
E porquê?
Os fundos disponíveis embolsados
                   em despesas correntes:
Scanner, ganza, computas etalné?
Tudo favores de amigalhaço mais iva
e uma lente progressiva sem papa
                           mas come a papa
até ser corrido a bikeiro,
rekambiado para debaixo da ponte
mijandu i fumandu na porta do prediú
hey adipina flomptes paguem lo k devem.

I think I saw a pussy kat trying to stick
some sing sing in yr ass, baby!                                

47.

Carta-bomba
ao papa da paróquia
Se até dia seis
não comprar um santo antoninho
                            com o menino
pela módica quantia de 40 eurinhos
nem que tenha de desobedecer
                                 ao rato
nem que tenha de subtrair
               o vinho da eucaristia
nem que tenha de passar fome...
não se admire se
depois de o relógio enferrujar
o sino deixe de tocar.
E mais não digo por agora.

terça-feira, 25 de março de 2014

46.

Die exhoterical and juvenile
cu-rri-kulum de mr.Cool

@13 - farmácia como ajudante
pagaram-me o lanche.
@16 - serviço de venda de kitchenware
largaram-me os cães.
@17 - ajudante de electricista
deram-me uma lapada.
@17 - serviço de venda de enciclopédias
ganhei um jantar.
@17 - ajudante de reparações electrónicas
a pita lhe.
@18 - serviço de venda de livros
preenchi o primeiro irs.
@quase 19 - num bar
os meus dedos tocaram uma rata molhada
pela primeira vez.

45.

Carta bomba à polícia alimentar
Olá polícia V. (disfarce de prima V.)
Baite fo[pii]er polícia V.

Tu - polícia que andas disfarçado
                                   de ninja.
Tu - que foste enra[pii] pela ditadura
Tu - que foste à guerra e
                          te assustaste -
os pretos que mataste
te sacrificaram galos pretos na infância
a tua mãe - a única que morreu sana -
a tua protecção dos montes de caruma,
colocados pelos brancos de V.,
atacaram no jardim da casa de V..

Tua mãe V. gostou de ti V.
não morreu de desgosto
amou-te como o filho mais frágil
e morreu
quando matas na baía pretos de V.
sacrificaram galos pretos e tu
traumatizado V....

'nas escadas das sereias
à hora do concerto de Buraka
descansei no ano da graça.
'Inda deu tempo para falar sobre
o ajax de carreiros
versus
juventus da triana.'

44.

Olá prima V.!
mais ou menos a sair
                       à tua procura,
procurar ler o jornal
                procurar emprego,
procurar um reforço de
                joanamaria.
Porque sabes prima V.?
Quero-te hoje amanhã
              quem sabe sempre!
Kero-te prima V.
para que me possas consumir
a mim - pobrezito zombie -
the most junkied of society.
(how important I am you understand)
Leste as notícias?
Os fodilhões fizeram a rusga
                    contra os pobres,
encontraram nada.

Be-my-heart, love

segunda-feira, 24 de março de 2014

43.

O país é
um perverso viajando na bagagem
da deusa do deserto.
O país é
um psicótico escrevendo
de cornos invertidos.
O país é
uma neurótica sentindo
a falta do paisinho.
O país é
um compêndio de doenças
pré-escritas.

O país é um filme gore:
Deseja a dominação do tirano
desde que retire vantagens
e possa atirar as culpas
para cima de nós - o chibo
       deus expiatório.

Sim! o nosso desejo
a nossa máquina a nossa bomba:
Somos a morte do capitalismo
Somos eu tu vós eles também
Somos sãos.
(suspiro eterno)
O país somos
todos nós - o limite.
O país vive
a realidade no 'cu-do-coelho'
com a alice fotografando
os axiomas atrozes de seu cavaco
                       de cisco no olho.
Luso Congo? Viva o Bonga!

42.

Cria o teu próprio mito,
a meu irmão Lupus
[é claro que aqui protejo
       minha irmã de sangue]

Irmão meu
Irmão meu em espírito
Irmão meu que os meus pais nunca me deram
Irmão meu
Irmão meu irmãozinho
Ouve-me
Ouve-me bem meu irmão
                     meu grande irmão
Ouve-me meu irmão
Não ouças o pequeno irmão
Ouve sim meu irmãozinho Tu o grande irmão
Ouve-me meu irmão - pinta
Pinta meu irmão
Pinta e Pina meu irmão
Pinta meu irmão e cria meu irmão
Cria meu irmão e pinta o teu mito
Meu irmão pinta ou pina meu irmão
A irmã que te não deram teus pais.
Meu irmão - meus pais não me deram irmãos
Meu irmão - teus pais não te deram irmãs.
Irmão - devemos encontrar
            a tua irmã que ainda não existe
            o irmão que ainda não criei.
Querido irmão cria a tua obra, a tua prima
Querida prima cria o teu mano.
Mano pinta ou pina a irmã que crias ou querias na tela.

41.

Imaginei-te com a mãe natal
as duas comigo - nós os três.
Numa cama seria a fractura.
A factura: a polaridade mental
                      em perigo.
Chama-lhe mentira:
Construí-te poemas, sonhei contigo.
Olha que a mãe natal compreendeu.

O que és na realidade?
Os pormenores que penso verdadeiros:
Uma leoa na cama,
Nem sequer uma loba agora?
Faço dois cigarros de enrolar
sentado numa paragem de autocarro
e ofereço-lhe um à grande deusa
- aquela que nunca sairá
do resíduo no meu coração de gelo
ao qual dou calor.

'Muito calor a luas da sua qualidade e
a esta linda muchacha maia...
let her decante in me o resíduo que d'Ela ainda resta...'

Sólida como um tango, fandango
                                    whatever
é linda e eu...
que estou só para todo o sempre
o meu coração com um compartimento
para a nova que há-de-vir.

Está codificada a verdade
Todos estão ao corrente.
Que resta de ti em mim?
Já pouco preciso de ti.
Precisava de ti
                    há uma semana atrás.

40.

Olá! Repara no ar de breu
As nuvens enchem o céu
Muito ar, frio muito frio
Fria a noite, os dias frios são.

O sol morre - a razão:
Tu - esfinge iluminada
                    pelo cogumelo,
pelo escaravelho
                e pela joaninha -
Aparece antes k seja tarde.

Há anos que espero
e tu com a barragem no rio
                                platão
                aos sessenta não!
Assim jaz o esperma no caixão.

quinta-feira, 20 de março de 2014

39.

Trend forecaster
pelos vistos tudo é uma questão
                     de estilo.
Fazemos com estilo
Somos os maiores
Vistoriamos todos os clios
                     que desaparecem
Policiamos na interzonamente
Na bolha em espiral
- o ninho de alguém que já não existe
O testemunho foi castrado ô rôbado
                (não é gralha com robalo)
Foi transfixado ô transmigrado
A alma não morreu
A alma existe em memória
A alma ata-me os pés
Põe-me a alma em bicos de pés
Desenha olhos em estilo policial
Põe barrigudos polícias a fumar
Nosso charuto xarutito xarutitando
                                       enquanto
Morrem chilenos neste país
                          que não é o seu céu
Em fogos de ar poluído
       a quem deram a vida e o corpo seu.

38.

A nova
pide armada em
ninja de cara escondida
e com uma shotgun encravada
                                       eheh

37.

Caríssima:
lamento ter de responder ao pedido
                    de documentos novos
                    de provas identificatórias.

Entreguei previamente a pedido de
um funcionário destacado por VªExa
para que vossa excelência faça os camelos
                           de uma bossa
              cumprirem com os pressupostos.

Se os documentos não estão na vossa posse
terão sido extraviados por funcionários
                                          de VªExa
talvez menos zelosos
mas camelos de obediência na mesma.

Considero portanto que se
                                         em consciência
não tenha de enviar tais documentos
                   extraviados por mãos omissas
reenvio toda a documentação exigida.
Obrigado

36.

café corin num rima con
pequim denxiaopin polpotin marine le pin
lenin estalin trotskin idi amin pin
hitlerin reaganin bushin obamin pin
merkelin barrosin cavaquin coelhin pin

pin pam pão pum mata pum

café corin rima con
mayakovskyn akhmatovin kropotkin e bakunin

nu café corin u futuru num foi onte

quarta-feira, 19 de março de 2014

35.

Estou com um cigarro na
                   mão esquerda
e penso nela,
                  na princesa de ra.
Estou com uma caneta na
                   mão direita
e penso nela,
                  na cigana de shiva.

ZhanXiPin de fato de trabalho
Azul como a cor da bandeira
(cozida à mão ah artesão!)
Um avião passa.
A bandeira com as cores de
ZhanXiPin,
                  há muito tempo
Transmutada em princesa de
                          baquelite...
Caiu da janela...
O gato levou-a ao vento.
O milho deu pombas às pessoas.

A guerra acabar - eis
                        a minha utopia.

34.

Carreiros com fome
Imediatismo ou coisa-isma doom
Criando ourobouros metal ooorrrg
Eternidade retornando
                        escatologicamente

Pinando pintar pintando pinar?
                                     Hongos...
Depois pinar primeiro pintar?
                                     Wolves...
Depois pintar primeiro pinar?
                                      Gratinhas...
Roubar um beijo?
                       Isso sim vulva súcuba!
Ainda válido?
                       Chouriço sem cabeça!
Uma década valerá um número-porta?
Um cd, uma mãe, a shrine?
              Sucking up my soul yr soul...
              In a lair to feed the moon..
My dream of a moon as I bite yr breast?
My mother's milk would I like?
I would like to take a nap in your pot belly
but little jazz bop in yr mouth?

Tu poderias queres que eu
                      te oferecesse uma lolipop...
Seria mais um segredo policial mente
                                   mente poetisa.
A Amy poderá morrer aos 27
e ela teve um relapso dias depois.
[e ela infelizmente morreu mesmo aos 27]

As abelhas andam por perto
quando ponho Beequeen no leitor de cd.  

33.

Meia noite nas esquinas e
Um pacote no verão
Estavam as pinhas à pina
Encastradas no varão

tantan tantan tantan
tintin tintin
tão tão tão
barbeia-te com omnisciência
a mosca ajuda-te...
                        intensa mente
livre livro libra libris...
                        lânguida mente
Mentiras mentindo mentiras.

Mentirias a quem? quem? quem?
Quem? Eu? Tu?
Amanhã vou cortar o cabelo.

Um clitóris dois pentelhos
Uma vinhaça um sabão
'bora lá torrar o escaravelho
Encaderná-lo em cartão.

terça-feira, 18 de março de 2014

32.

Are you scared?
Bella?
Belladonna?
'Protejam os bancários
e matem os intrusos!'
'Achaste mesmo que tu
e os teus amigos teriam
hipóteses?'
'Right! So bugs are
really the master peace?'
'The worms with a wire?'

Parece que tens um plano...
Impasse. A indemnização não chega.
The moe the moe must must must...
This anonymous room with no sound
dead dead but not realy dead you see...

post-scriptum: temos muito respeito
pelos serviços postais.

31.

Legal informal pendular
vestem os humanos uma perna de cada
espanha españa spain 3 vezes
regional
irlandês finlandês nordland na tenda das
pme => louva-a-deus
diminuição nas chamadas com
                            custo de contexto =>
aquele caminho leva a algum lado
                  direccionado para os nichos
bichos de mercado, gerir os nichos
                            de pureza original =>
os anti non não nee a partir do
                               gabinete do pm =>
a vã glória de mandar
os anti non não nee a toda a opressão
                        das instituições públicas
mas não púdicas ou mesmo púbicas carnes
                                        de porca...?
Resposta 1: península provoca o congelamento.
Resposta 2: estagnar e indemnizar os nonono
           with a gun dillinger dean gangsters!
Holy shit shit cow chao holy shit shit
uma vaca pode ter três tomates (?!)
down town train and a glass of vodka,
                             let's get high high high!
Que pontes de contacto com a realidade?
Onde e como?
A receita é simples: those hives sff fodasse

30.

Choque petrolífero
<begin>
your boss greasing and working
her ladder
barco bench chuck bartowski
rashan chen wesley snipes
blak bleak back dog yr dog yr god
passenger 57 your god dog sirius b
100.000 usd vs. 3 red vs. Crown
victoria 85 v8 4,6 vs gps
tracking system caracterizamichael car
knight charles vs. kink Ion => ( implies )
boomerang fixed and or xor transfixed
@
xmas balls golden balls
dam ham mitzvah talking to
yr parents with blue jeans
red roger that john
<end>

segunda-feira, 17 de março de 2014

29.

Irab não desiste e re-comenta:
per favÔeur... ân glass dô, HoViagraDo
por Vouestro tabako. não diga mal da
minha mãezinha, faça um donativo pk
minhamannhi é imperadora de um banco
ke dá pão, leite e às vezes ameixas, SIIIIM
frutinha do capitõ ZiggyIggy prá minina 
e pr'o minino... é preciso respeitar o galo,
as pitinhas andarão por aí a comerem chouriço 
com papaaçorda habbaAbbaAllaMadonnna
Eu cá por o que gosto é de erbilhas numa
casserola de madeira (pau braziu a veêm dizer)
mas de facvto sem ser plástico. Agora limiana-
ar-mente Capto não percebo como o nosso
primeiro, akele que usava grabata e fumava
xaruto moksianús, o tal do Nobel das alturas,
há mais de 50 anús, beja lá ke eu gajo de Puerto
Pobre (e aki estou a piscar o olho a esse grande
comunikador) - akele ke foi ministro dakele bellho
senhor que caiu da cadeira sem almofadas para
esconder o móNI... Bryion Gysin said to me
"kick yr habit" I really bE-live que é suf... sufi...
ciência bos salvará... i dixit 1 e último (h)á partes:
o vosso blog dá-me orgasmos solidários... já
repararam que a ciKuta que inflingiram ao S,
pai de P, há 3000000 (é natural k tenha errado 
o numerário de zeros à direita?!) está a provocar
os incendios nos campos subterrâneos dea floresta
negra ou diria mesmo Grega ou mesmo kem sabe
gagajando como se um chouriço entrasse por uma
certa canalização k ensiste em engravatr a mortlha
que contem o soma-Tao-RRio... Vem irmãos irma
~~ as papas e mamas nunca phalaciosos,
Kumprimentos da Kumpanhai AB a Vossas Altezas,
e não decepem mais cabeças pk eu ká por mim bou
mas é facere um download e entrar em roaming...
MMMMMUUUUUUUUUUUUUU.

sexta-feira, 14 de março de 2014

28.

Bate leve levemente filho.
Dá turrinhas na parede
e, quando o galo cantar e já
não crescer mais, concordarás
com a fotomontagem cheia de
corpos a pensar o mesmo que tu:
foder aquece o corpo sozinho de
Onan, Nietzsche, Leverkhun, Pavese...

E tantos - credo abrenunxia - e tantas!
Dizer tudo isto ao sedotô?
Para que aumente a dose,
para que o cérebro se transforme
                                  em couve frita?
Vale mais disfarçar e fazer
                                como o argentino
- uma personagem de Anais Nin.

Engoma as calças e imagina
                seguir uma bela mulher
                avenida abaixo.
Entram num quarto juntinhos...

Acho linda esta consumação:
'se não podes foder imagina.'
mas...
a medicação tira a vontade de ter tusa,
                    tira a potência de querer
                                  ordenar o caos.


[Nota de transcrição]
Este texto encontra-se truncado,
                         quase racionalizado
mas...
relendo reparo que houve um clique,
começo a reparar que o galo canta
                             todas as madrugadas.
Ficar dependente de um subsídio,
de uma indemnização que não chega,
de uma amiga que não tenho...
                                  também ajuda.
Tudo me leva à apologia do onanismo,
e não dormir e acompanhar às seis da manhã
o canto do galo.
O 'ter-me visto' numa fotomontagem na web
baseada numa obra de Spencer Tunick dá-me
a ilusão de ser público,
a ilusão de alguém se divertir a desconstruir-me
a ilusão de valer a pena responder ao absurdo
        com o riso absurdo
        com a deformação abjecta da palavra
        com o estilhaçar ofensivo do Eu.

As cartas-bomba fazem planos
                           para ser remetidas.
Nem tudo será inteligível ou bem educado.
Amen.

27.

Esta noite estou zangado.
Não compreendo a incompreensão
                                              alheia.
Culpo-me por isso.
Tento explicar ao outro que
          vejo no espelho quando fumo:
Talvez compadre...
não gostes de ninguém.
Talvez sejas rancoroso, misantropo,
com uma ideia muito grande
                                de ti próprio,
e claro compadre...
perdes o fio à conversa
                                several times,
acabas por lhes dar razão
e compadre, esses compadres
            tornam-se sádicos porque
tu os deixas compadre...
(mas logo explico ao eu que fuma)
cumpadri,
o meu conhecimento é intuitivo,
dedutivo,
como a nossa dialéctica, vês?,
a arrogância torna-se humildade,
planos se fazem, rupturas se anunciam.
Digo: não quero ninguém.
E depois digo e sofro por ninguém me
                                            querer.

                      (A mão que não fuma
bate na própria orelha)

quinta-feira, 13 de março de 2014

26.

As aventuras laborais de mr.Cool

Apanho o autocarro às nove horas.
Ligo o backoffice às dez e treze minutos.
Ligo o rádio. Tomo café. Vejo o email.
Vou ao multibanco ver se o boss depositou.
Não!
Não está disponível a remuneração em falta.

Passo o tempo a organizar a papelada.
Chega a nossa colega maia.
O pedro saúda-nos do chat.
Descarrego da net o disco 'opel' do Syd [Barrett]
Tiro fotocópias.
Conversamos sobre acções a tomar.
Saio para o Xeirinho à uma da tarde.
O meu almoço: um carioca e um napoleão.
Não me recordo agora
                    das notícias no jornal da tarde.
Sou um leitor compulsivo.
Tenho fumado menos.
Chega o pedro. Fumamos. Vamos ao mb.
O boss não aparece há uma semana.
Amanhã é dia do trabalhador.
Temos de esperar até às 11h59m
    para passar os três meses de prazo legal.
Sim...
uma carta registada com aviso de recepção.
A maia tem uns olhos lindos.
Bate a horário de fecho. Fecha-se o dia.
O último dia de trabalho.

Às onze e cinquenta e oito minutos
              tiro uma consulta de movimentos.
Saldo: zero euros e nove cêntimos.
Existe motivo para justa causa.

Hoje dia um de maio, dia do trabalhador
estou oficialmente
                                       desempregado.

25.

Não recebemos há dois meses.
Este é um diálogo a uma só voz
                              sobre a precariedade.
- Mãe, veja bem...
O senhor A e o boss inadmissível
                                 são uns espertalhões.
Abre-se uma empresa com fundos do estado
e todos os dias se chega com novas ideias
                                 que não saem do papel.

Uma ilusão os move: o lucro de vender e
                descansar à sombra da bananeira.
Ideias que não saem do papel.
Investimentos irrevogáveis:
três(?!) scanners e só um elemento
                             que os sabe utilizar;
três meses sem impressora
                              por falta de tinteiros;
uma central de telefónica e telefones a ganhar pó
                              que ninguém atende
                              porque ninguém liga.
Um emprego keynes. Pastamos a toura.
Não fazemos nada de produtivo.

Agora fazem o jogo mesquinho,
esperam pelo prazo legal para pagar,
evitar a nossa rescisão por justa causa.
Quem dera que o boss pague.
Não recebemos há dois meses e meio.

quarta-feira, 12 de março de 2014

24.

Ana kerida,
sabes que estou perdido mas
que tal um concerto de doom metal?,
digo-te que o passado é história
má literatura mas erros necessários,
devemos cometê-los ainda jovens,
para que não tenhamos saudades
de os não ter cometido quando
as rugas e as cãs chegarem.

Aqui estou
apenas meio adormecido
acordando sempre que te vejo
enrolando cigarros na esplanada.
Sabes?, um clique...
e tu me encantas,
tu me enfeitiças por estes dias,
és tu que me fazes sorrir.

Nem imaginas o quanto sonhei com
                                          Macau...
Agora vou dormir.

23.

Como a polícia funciona:
mesmo sem culpa, é-se 'obrigado' a confessar.
Confissão depois usada como meio de prova.

No entender de quem manda:
'se estivesses inocente não confessavas'
Também pode não se confessar e
performar um chiqueiro como distracção
mas eles sabem-na toda,
(ai os maus!, eles sabem-na toda...)

Chega a ambulância com via verde
para o belo hospital.

Pormenores que irritam:
- a gravata do primeiro durante o euro [2004]
- os obreiros da revolução deixaram
                              tirar o 'r' à revolução.
Pretendem significar: evolução mas...
vejo tudo, a palhaçada toda, a andar para trás,
                          pior que há quarenta anos.
                         

22.

Cronologicamente geração rasca sou,
um bebé da revolução, participei
                          no fecho da academia.
Vi tendas montadas e
flirts de capa e batina e
vias de facto na forma tentada porque
cerveja rima com mijar e dormir.
Durou três dias a revolução dos bebés:
os pais pagaram as propinas,
alguns bebés chegarão a secretários e
primeiros de qualquer coisa,
serão a nova inteligentsia, dirão:
apenas inalei, nunca fui às meninas.
Aos futuros genros dirão:
respeitem as minhas barbas.
Eu cursei sem capa e batina,
pedi (não obriguei) dinheiro
                 às caloiras pra cerveja mas...
aborreci-me com o que vi e
com o que ia fazendo.
Vou-me refugiando agora nas palavras
(nós cegos), não fujo para trás,
dialogo sozinho com o meu eu,
tiro conclusões:
os rebeldes acabarão mortos.
Far-lhe-ão estátuas de hipocrisia,
em vida nã quiseram saber, a anedota:
é proibido mas podes fumar...
e o que acontece: nada, ficas moca.

Já estamos mortos há muito tempo.
Fumamos a paz de um cigarro a dois.
Esvaziamos o eu, tornamo-nos um outro
como se tal e qual o remador da barca
                                             do Vian.

... mas a paranóia, a dissociação
leva-me a terminar, dizendo:
'our son is being watched,
he may become a martyr.'

terça-feira, 11 de março de 2014

21.

Atenção!
- um sol de madeira
        com espelho esférico ao centro.
- uma sereia com peixes
        a subir pelas pernas
             em direcção à vulva.
- uma aguarela em papel
        colada a uma tela com caixilho
        de madeira suspenso em armação
        exterior preta que parece de metal.
São as obras que me ficam na cabeça.

Chego a casa vindo da exposição
e ponho Suicide no gira-discos:
C'mon get up, we're all Frankies,
canta Alan Vega e
a mim parece-me que
ele tenta ressuscitar o morto
                              pela via do som
na história mil vezes repetida.

20.

Anexus 51: ouço gravação minidisk.
Alusão ao fascínio?
Eis o conto das flores com fascínio.
Enfrenta como quiseres.
eu já não me fodo com isso,
preciso de uma boa gargalhada,
tu já não tens interesse para mim,
não és realmente um espírito livre,
desejas conduzir a barca alheia,
criar um mito,
solicito cópia para oferecer à telma e
sermos um casal moderno.

-ai mano minha virgem,
minha santa engráxia - desampara a loja!
Eu sei que é mau para o negócio
e que como publicidade é péssimo mas...
a vida continua e a ofensa,
a liberdade de uns começa onde
                           acaba a dos outros e
nenhuma lágrima mais para as criaturas
                                               da noite.

Goodnight children.

19.

Que quero eu dizer?
Que tenho de novo a dizer?
Cansei-me das palavras
- agora só escrevo repetições.
Agitado escrevo
                a ver se a coisa passa.
Não escrevo por querer,
                            nunca escrevi.
É sempre uma necessidade,
                       um alívio.
Só pinto por prazer,
                    quero ter prazer.

'pensei no futuro, tive ambição,
o campo amoroso um absurdo,
a literatura um absurdo...'
Fodasse! Com bilhete sem destino.
Ganho coragem e salto para o escuro e
abro os olhos num monte de silvas.
'não morri, não morri, não morri...'
E eu a pensar que era covardia e
e e não morri e
e no hospital expludo:
'as mulheres são todas umas putas!'
Ela já mo tinha dito e quando perguntou
                                     eu neguei.
E escondo e sonego e a minha mãe
                                   assina o termo e
em casa toda a gente preocupada e
meu pai pergunta porquê e
eu repergunto: gostas da minha mãe?, e
depois recuso ajuda e deixo-a e
fico com o absurdo nas mãos:
reverter o édipo - mandar foder
em vez de mandar matar e foder:
                         - mandar foder
numa ânsia de destruição e
toda a gente repara e esqueço
todo o mal que me fazem.
Sou lento nas respostas.
Consigo fugir mas relapso:
'serei sempre um estranho,
não é este o meu lugar.'
Tenho medo, muito muito medo.
Quero esquecer
           para só ter futuro.
'é ali que quero chegar,
sai da frente ó merdas!'
eu - humilde servo agora opressor
tal que não deixo amigos quando morro,
(e já morri várias vezes)
a sociedade das lâmpadas para colorir e
três mil pessoas mais o eclipse e
duas gajas ao mesmo tempo
para tentar matar um amor antigo
                           na minha mente
                           na minha vontade:
- a uma chamo-a de lésbica,
     e ela sofrendo diz que gosta de uma pessoa;
- a outra manda-me foder,
     e ela com um sorriso chama-me de parolo.
Três mil pessoas a chamarem-me Paneleiro.
Depois do eclipse dizes:
isto não é imaginação
                               ou foi?
Não pode ser uma construção da tua mente
                               ou foi?
Estás louco ou foi simplesmente fuga?

segunda-feira, 10 de março de 2014

18.

Um mês a estudar.
O senhor A. quer que eu tire 90%.
Eu contento-me com setenta mas...
perderei poder de argumentação.
O acordo verbal prevê aumento salarial.
Talvez o acordo não se cumpra.
O meu compromisso: este emprego
                                 caído do céu.
Dá-me dinheiro para eu poder
                                        pintar.
Tenho de manter o trabalho.

17.

Eis a sua opinião:
'Não espero que alguém o faça.
Não me acho suficientemente interessante.
Vivo um momento de cada vez.
Em breve, chegarão os últimos dias em que respiro
e o último dia em que o meu coração bate 
e o momento em que deixarei de o fazer.
Sempre soube quando estavas perto,
sempre consegui adivinhar quando te ia encontrar.
Desta vez também. Surgiste em pequenos momentos
e um dia, cheguei a casa e havia uma carta tua.
Não me surpreendeu.
Gosto do platonismo que nos une, gosto
da maneira como te adivinho, gosto 
como suspeito os teus pensamentos.
Continuas fácil para mim. Marguerite Duras escreveu:
o melhor amor é aquele que fica suspenso.
Não a percebi. Tem a ver com a maneira como
se olha para outra pessoa, como
se ouve a outra pessoa, como
se tem a outra pessoa abaixo da superfície da pele e 
como essa pessoa nos acompanha nos
movimentos diários apesar de nunca estares presente.
Digo que és fácil porque consigo 
adivinhar a tua presença nas pequenas coisas que faço.
Outro dia, vi um arbusto grande de malmequeres e 
lembrei que havia um arbusto enorme do qual
eu roubava sempre uma flor.
Não havia razão nenhuma para que
teu rosto viesse ao meu pensamento
mas foi em ti que pensei e soube que estavas perto.
Isto só me acontece contigo.
Por isso és fácil, estás comigo sempre.'

16.

Ela revela-se uma desilusão.
Assustei-a com os 'perápes'.
Falei demais, exigi, escrevi a mais.
As respostas não chegaram e
                           aborreci-me.
Zanguei-me, cortei relações.
'Se ela te telefonar atendes?' Duvido.
Livro-me assim do passado.
Tenho a desconhecida como futuro.
If não procuro activamente Then
Tu tens de engatar
End If
Mas...
Não acho piada todos os dias ao jogo.
Cansei de ser sexy.
Não tive coragem de lhe roubar
                                      um beijo.
Ela escreveu: estou à espera do
            cavaleiro de armadura negra.
Acrescentou: não há nenhum príncipe.
Esbanjou: palavras abstractas, generalidades.
Desinfectou: não quero ser atingida
                                pela complexidade.
Sofro: ela não deixa que os homens
                                            a envolvam.
Gravo uma cassete em memória d
                                       o seu porquê.

15.

Há perto de dois meses que não
                                       escrevo.
Prefiro viver em vez de relatar.
Prefiro viver em vez de futuramente
                                    analisar.
Tanta coisa aconteceu.
Podia ter escrito todos os dias.
Por exemplo, a história:
'os gatos de Via Láctea - eterna
                           mãe e irmã,
uma nurse with wound com redondos
                           óculos pretos.

Cookie: malhado yin-yang.
Arisco espuma-se de medo.
É castrado.
Um dia vejo-o debaixo de um gato.
A princípio rio-me: ah afinal
             os gatos são trans-sexuais.
Logo sofro: os gatos são sodomizados
                          pelo patrão.
Logo então se adiciona novo gato filho.
Kiko: malhado e dourado.
Separado no berço, vê as tetas da mãe
e Cookie deixa-o mamar
                        'até que um dia se farte.'
Cookie come a comida toda, está
gordo, velho, sábio e com cataratas.
                                  Será anestesiado.
Kiko tem a mania de atravessar a rua
no sinal vermelho.
                                  Será um herói.
O neto desta família chama-se Goldie.
malhado nos génios e com genes.
Esteve para se chamar Yelou.
Goldie é mais de trazer o amiguinho
                               até à porta de casa.
Uma casotinha com cobertor
                               durante a noite,
até ao menino dos olhos de Via Láctea avó
                                              acordar.

sexta-feira, 7 de março de 2014

14.

Lentamente as palavras vão
                             fazendo sentido.
Negoceia-se uma redução de dose.
Ao fim de um ano... talvez 0mg.
Depois... um período de três anos
                                 em vigilância.
Sei que o doutor faz um boa acção:
uma prenda com veneno antes da 
                                        reforma.
Só eu poderei descobrir o antídoto.
Ser auto-suficiente.

A celebração inclui W. Reich 
                                   na Amazon.
Consegui um cartão de crédito.
Exercito o meu inglês.
Leio: ser bilingue pode impedir 
                                   o alzheimer.
Ao jantar envio sms a dizer:
'não trabalho segunda,
if I might be bold entre linhas
vamos querida para fora uns dias'
Confesso-me ousado, espero que
                                   ela goste.
Lembro: apaixonar-me por email é
                                   rotina minha.
Aguardo resposta.
Ouço Legendary Tiger Man em vinyl.

13.

O dia de ontem? Memorável!
O doutor dá a sua consulta - a última
                            antes da reforma.
Pergunta como me sinto
                                    agora
Com a redução da prescrição?
Eu digo-me bem e peço
                                    ainda menos...
- Informe-me, faça a exegese,
o que está escrito acerca da
                     minha situação clínica?
Ele lê: agitação... mania da perseguição...
          exaltação... verborreia...
Tento explicar os porquês:
'o verão, o varão, o barão, a barona
                           e a baronesa, doutor...
a baronesa recusou a minha declaração,
ela contou, extrapolou,
submeti-me à chacota, zanguei-me
                          com o boss, doutor...'
Falo, principio a abordar o resíduo.
O doutor diz: tem problemas da adaptação.
Insisto: as minhas relações são frustrantes,
                                              conflituosas.
Digo: os media transmitem propaganda.
induzem, tornam o meu pensamento verídico,
                                                manifesto.
Ele analisa; é aí que começa a doença,
a adaptação não é propriamente doença,
                             mais um modo de ser.
Quanto às mulheres, ele diz:
'quem vai à guerra...'

quinta-feira, 6 de março de 2014

12.

Dizem-me para deixar de vez
               os comprimidos do dótor.
Registo o interesse em me curarem.
Oferecem a cura.
Já leram tudo, ouviram tudo.
Opinam sobre o que não viveram.
Não me lembro de ter pedido opinião.

A alma arde.
'amanhã não me apetece fumar' significa:
'não deixes para amanhã
                          o que podes fazer hoje'
Fumo já hoje o último da semana,
Tudo porque: amanhã não me apetece
                                              fumar.
Ainda porque: hoje não me apetece
                                             dormir.
Não sei se antes ou depois do
                               Magalhães Lemos:
Lembrei-me dela, tive vontade de lhe
                                               escrever.
Disse que a vi num livro de arte egípcia.

Ela adiciona-me no chat mas não tem tempo.
'quem sabe um dia talvez', diz.

11.


Pinto uma tela a pensar
                    na filósofa que conheci.
Entitulo: a beleza está a dormir para 
                        manter a tinta limpa.
De tão narcísico tinha antes dislexiado:
uma beldade está a pintar para
                        manter o sono limpo.
Escuto Zeca Afonso. Tenho o diabo na mão.
Vou cair das nuvens para ir ao futebol.
É verdade: não me apetece incorporar 
               a couve do quintal no quadro.
Saio para a galeria.
A inauguração correu ontem.
Leio os comentários no livrinho.
Gostaram do Old woman de 1998.
Coloco o preçário. 
Saio para beber um galão dragão.
Chego a casa. Spino Nirvana unplugged.
Fico a saber: os meus dois bosses 
                           também fumam ganza.
É tarde. Preciso de dormir.
Apetece-me escreve mas...
'estou tão bem debaixo dos lençóis.'
Apago a luz.

10.

O técnico de som chega com a namorada.
Comem churrasco.
Fumamos. Filmam os quadros.
Estamos num bar onde, anos antes,
                                    me expulsaram
- insultava sozinho em alta voz à noite.
Agora novo dono, decoração e novo dj.
Toco na gruta, peço sumo de laranja.
A úlcera não sabe que eu já sei que
                                           tenho úlcera
Polinizo uma mortalha e saímos.

Numa praça perguntam se ainda
                                     tomo comprimidos.
Respondo com os factos, o diagnóstico...
Digo: Não me importo de os tomar.
Às vezes falho mas não descompenso.
A descompensação: percepção aguda.
A realidade vinte e quatro horas
                                        todos os dias.

No final da noite, já de madrugada:
Na vandoma não compro Nick Cave,
                   The good son por 12 euros.
Ando poupado: sem amor ou filhos.
                                Poucos amigos.

quarta-feira, 5 de março de 2014

9.

Fumei o último a ouvir
                       música clássica russa.
Hoje, dia de Carnaval.
Na sexta comprei, no sábado comprei.
No domingo, na segunda voltei a comprar.
Ganza à parte tenho notícias.

Acordei, desliguei o despertador, acendi
                                                   a luz.
Jejuei um charro, saí para o trabalho.
Estou maldisposto mas 'tem de ser.'
Chego ao trabalho, dá-me a moleza.
Suspeito de folga, não chegou ninguém.
Saio para carregar o telemóvel.
Volto. Ninguém.
Telemóveis desligados.
Sinto-me fodido: é folga e eu aki!
Ligo ao boss inadmissível.
Voz monossilábica com sono.
Eu pergunto se, ele pergunta se não, dá folga.
Desligo o computador e            logo agora!
A secretária chega de óculos escuros.
(Boa nas horas, começa a sangrar do nariz.)
Diz que se atrasou, um café na cozinha...
Um cigarro: ela diz que não quer a folga.
Eu digo: ligaram-me, exposição à vista,
o boss inadmissível deu o ok.
Combinamos a estratégia a usar com o senhor A..

Chego a casa. Chegou Black Antlers: mais Coil.
Estou em jejum: endoscopia ao fim da tarde.
Agora apanho o autocarro, o senhor A. liga.
                                                     Não atendo.
Se amanhã perguntar, truncarei a verdade:
'ligara-me, tive que ir ver o espaço,
marcaram já uma data, não pude atender'

Agora: o exame provoca-me vómitos.
O tubo não passa. Não se realiza a biopsia.
O médico diz: deixe de fumar.
                              Tem uma úlcera jeitosa.
Angustiado pergunto: tem cura?
'se deixar de fumar,
                    tomar a medicação,
                                           deixe os doces'

8.

Contabilidade de um mês de trabalho:
'62 euros em vinyl
 15 numa aparelhagem usada com giradiscos
 35 num passe de transporte público
 25 em pólen semanal
 85 por duas molduras
 24 de tabaco e mortalhas'

Balas no céu azul.
Procura-se contrabandista vivo ou morto.
Fumo, ouço Virgin Prunes,
O livro sobre a arte dos celtas na mão.
Chega o T., essa grande estrela pimba...
Pede um chipicao, vamos fumar:
euros de boa ganza, nada de petróleo.

O senhor A. diz-se interessado em
              contratualizar a minha pintura.
Ora eu digo: nada de exclusivos.
Desconfio das intenções do patrão.
Todos os meus patrões se chamarão de A.
Todos dizem que pertenço
                           ao exército vermelho.

7.

Algumas correcções a fazer.
O senhor A. diz: nada de precipitações.
Combinação para amanhã.

Compro ganza e vou almoçar.
Um pouco de televisão. Uns fumos.
Decido ir corrigir para o café.
Aparece S. com a namorada.
- a vida, a experiência pessoal
  a possibilidade de um contrato de três meses
(se as correcções pedidas pelo senhor A.
                            não resultarem em trabalho
  tens o bidãovil à tua espera.)
'bora para o anexo fumar
                             e ver quadros.

Convidam-me para um caneco.
Vinte minutos de táxi depois, nós
                                os três a fumar.
Natal, fim de ano, passou-se.
Assinei contrato.
O ano começa                     bem.